Saber quando procurar ajuda psicológica para si mesmo já é uma tarefa difícil para muitos adultos. Esta missão se torna ainda mais desafiadora quando o alvo da preocupação é um filho adolescente.
A adolescência é um período que pode gerar alguns conflitos na família, pois é uma fase que exige adaptação e mudanças em todo seu funcionamento. Nesta fase, aquela família que funcionava bem com os filhos pequenos, conseguia impor regras, conseguia acessar os filhos e bem conviver com eles, pode começar a enfrentar muitas dificuldades.
Aquele filho, conhecido por ser muito tranquilo, de repente começa a desafiar os pais e a infringir regras. Ou quem sabe aquela filha, o “grude” da família, agora simplesmente não quer mais a companhia de seus pais, nem mesmo nas viagens! O filho, que sempre contou tudo que acontecia para o pai, de repente está guardando segredos, sempre trancado no quarto. Já a filha, sempre muito responsável, anda esquecida e vem tirando notas mais baixas nas avaliações da escola. Muitos pais, antes alvo de admiração, passam a ser criticados e até ridicularizados.
Nesse momento, muitos pais começam a considerar a busca por ajuda profissional. Por um lado, sentem-se frustrados e fracassados; e de outro, os filhos se sentem confusos e incompreendidos. É uma crise familiar.
Tudo é mais simples quando o próprio adolescente tem interesse em consultar um psicólogo, pois ele mesmo percebe algumas de suas dificuldades, ou tem algum amigo que já teve essa experiência, e que de alguma maneira o influenciou a buscar este profissional.
Muitas vezes, porém, essa procura e interesse não partem do próprio adolescente e os pais precisam sugerir o tratamento ao filho - tarefa que, dependendo do nível de conflitos em casa, pode ser bastante desafiadora.
Sugerir uma terapia a alguém é sempre delicado, pois se corre o risco de prejudicar ainda mais a relação, quando a intenção de quem está propondo a ajuda não é adequada ou não é transmitida de maneira eficaz.
Se o pai, ao propor atendimento psicológico a seu filho, transmite sua mensagem de modo a passar a ideia de que esse adolescente é o único “errado” ou “problemático” da história, deixando de considerar que todos estão tendo dificuldades para se relacionar naquele novo momento da família, é bastante provável que o jovem se sinta desconfortável com a ideia proposta.
É preciso que os pais consigam explicar para o filho o que os preocupa, e que estejam dispostos a assumir e a trabalhar em seus próprios erros também. A psicoterapia com crianças e adolescentes dificilmente deixará de envolver seus familiares.
Pais e filhos devem saber que a terapia será um momento seguro para que o jovem possa compartilhar coisas com as quais talvez não se sinta confortável para discutir com os amigos ou familiares. Será um espaço dedicado ao jovem, com respeito e a proteção do sigilo profissional.
Não é aconselhável tentar forçá-lo. Os pais podem até tentar obrigar os filhos a frequentar uma terapia, mas ninguém pode forçar alguém a efetivamente entrar num processo terapêutico.
Por isso, nesses casos, aconselho que os pais iniciem a terapia sem o filho. Provavelmente conseguirão muitos avanços apenas mudando algumas de suas próprias atitudes. É muito mais fácil quando a família toda está envolvida, mas se os adultos mostrarem-se efetivamente dispostos, é bastante provável que o adolescente se sinta mais motivado a participar também.
Ter um adolescente na família pode ser algo maravilhoso e enriquecedor. O adolescente traz o novo e impulsiona mudanças positivas na família também. Quando a família se adequa novamente a sua nova estrutura, seus membros conseguem melhor vivenciar e aproveitar esse momento, e os pais passam a enxergar os frutos de seus esforços no cuidado daquela criança, que floresce num adulto, cada vez mais independente.